Texto: Dayse Angela do Nascimento Azevedo
Dayze Nascimento aos dois anos
Lembro-me bem, quando criança ainda,
minhas férias escolares transcorridas, boa parte dela, em casa de minha
vó. Família grande de doze filhos mais minha mãe. Um total de treze filhos entre homens, mulheres, uma marea de netos,
sobrinhos e primos. Sem contar os amiguinhos da rua que ali
viviam e uniam-se as nossas brincadeiras diárias. Aqui, não entrarei em
detalhes aos bullings desrespeitosos direcionados a nós, crianças afrodescendentes
do bairro. Minhas observações estarão
direcionadas aos outros causos, como: o delicioso mingau de minha vó. Ocorria
sempre as
17 h. da tarde como ritual, durante as brincadeiras que fazíamos entre
primos, netos, sobrinhos e as crianças da rua.
Detenho-me agora a destacar, uma imagem de
minha vó, que não me sai da memória que era: corpo robusto vestido de saia
estampada com florezinhas, bem pequenas, coloridas e uma blusa com mangas
compridas, bege. Cabelos brancos no ombro. Minha vó estava feliz, ao menos
naqueles minutos quando, ao interromper nossa brincadeira, nos oferecia o mingau
da tarde. Tão gostoso isso era! Às vezes feito de milho, com coco e canela, outras vezes de mandioca e banana e, ainda, de maisena e chocolate. Em suma... Apesar
de gostar de qualquer jeito, de como o mingau era feito, nunca me esqueço das
recomendações que vovó nos fazia. Quando pegávamos a colher e levávamos ao
prato, ela dizia: “crianças, atenção! Está muito quente esse mingau. Comam bem
devagar sem pressa. Comecem a comê-lo pelas beiradas, depois pelas bordas até
chegar ao centro”. Ora, ora... Esta frase me faz muito lembrar os três poderes da
política brasileira representados sob Presidencialismo. Hoje, ficam bem claros:
nas beiradas temos o parlamento, representado pelo presidente o Deputado Eduardo
Cunha - PMDB, afastado por indícios de corrupção e lavagem de dinheiro. Cunha
foi substituído por seu aliado, o presidente interino, Deputado Valdir Maranhão -PP. Nas bordas, temos o Senado, o Senador Renan Calheiros,
Presidente também do - PMDB e, ao centro, o Superior Tribunal Federal - STF, o presidente,
Excelentíssimo Ministro, Srº Ricardo Lewandowski que apesar de não ser filiado
a nenhum partido político, Lewandowski, sempre teve uma atividade política intensa em São Bernardo do Campo, próximo
aos políticos peemedebistas.
Para mim tudo está relacionado à política.
Podemos definir a política como a arte de guiar. No caso, foi minha vó quem nos
guiou, para que não queimássemos a boca. Mas, em uma organização macropolitica
de poder que visa o capital, nem tudo acontece desse jeito. É mais provável que
em vez da política estar voltada ao humano, prevaleça a política dos homens
de poder sobre outros homens comuns que movidos por uma política em perspectiva,
se exercitam. Comparando as duas praticas politicas a politica humana e a politica partidária; a primeira esta voltada a uma vivenciada
no cotidiano que busca a liberdade, o respeito mútuo, o encontro, as diferentes
maneiras de sentir a vida, entre: seres, coisas, objetos. Diferente
da política partidária, dos políticos de profissão que, ao construírem campos
de dominação de forças de poder sobre corpos de pessoas, por meio de leis, normas e
programas de governo, geram diferentes formas de violências, colocando em risco
a própria vida humana.
O que será da política? O que definimos
como política? Como podemos defini-la? Podemos tanto ou pouco? Mas, o que
realmente sabemos e, ou, conhecemos, sobre a POLÍTICA HUMANA?