O jogo lúdico do corpo - VÍDEO

   Texto:  Dayse Angela do Nascimento Azevedo



Vídeo realizado no Museu Paço Imperial. Rio de Janeiro, 1995

Desde épocas mais distantes, até os dias  de hoje, o jogo vem acompanhando e marcando a cultura de algumas comunidades tradicionais, tornando - se uma atividade de referência, de fundamental importância  para a vida social. 

Entende-se jogo um momento único de celebração, algo relacionado à festa, a felicidade que, por si só, é prazeroso. Estimula a imaginação e a criatividade dando particular significação  a 'ação física' do performer. 

HUIZINGA destaca, em seu célebre livro “Homo Ludens”,  dois exemplos presentes na sociedade humana que são marcados pelo jogo,  são eles:  a linguagem instrumento que o homem forjou para comunicar, ensinar, dominar e,  o mito - fundamento divino, coletivo, sagrado. 


Diante dessa leitura oferecida por HUIZINGA seguem minhas  reflexões sobre o jogo e, destaco de um lado, o jogo enquanto (linguagem do homem em relação a si mesmo e ao outro). Entendendo-se que a linguagem corporal, brincadeira com as palavras, leva o homem a colocar em prática, o seu próprio ritmo interno, entre: espírito, matéria e as coisas em torno, facilitando assim, sua comunicação. Do outro, o coletivo, representado por uma sociedade animista que procura através dos mitos dar sentido aos fenômenos e aos elementos da natureza, bem como, aos seres vivos, atribuindo-lhes fundamentos: divino, sagrado, religioso. 

Observa-se que o jogo torna-se importante tanto para a vida do sujeito, enquanto função vital, quanto para a vida em sociedade, enquanto função social. Porque quando “o jogo é identificado como fenômeno cultural, ele deve permanecer mesmo depois do seu fim como criação nova do espírito, assim como, um tesouro, a ser conservado pela memória e transmitido de geração em geração". É, o que acontece em algumas comunidades nativas do Brasil. 



Muitos são os pensadores, pesquisadores, estudiosos, que apontam a importância do brincar como processo natural, evolutivo, presente na vida do humano. Mas, na vida atual do século XXI, o brincar passa a ser, não uma atividade lúdica de prazer e de divertimento que estimula o imaginário e a criatividade, e sim, exemplo daquilo que SOBRA do sistema de poder, uma espécie de incubo sobre os humanos. E, o que sobra? Individualismo,
inveja,desrespeito,insatisfação,guerra.

Querer ser o outro, querer ter o que o outro tem, entre outras coisas... Uma grande falta de perspectivas diante da vida!!!

O ocidente eliminou o jogo de sua cultura quando programou o corpo humano ao  trabalho serio! Hoje, nem as crianças tem a oportunidade de brincar. Geração coca-cola,  sedentárias, peso acima do normal. Quando adultos, tornam-se indivíduos robotizados em suas atitudes e ações.  

O corpo é o foco principal nesse novo sistema de poder. Podemos chamar de corpo aprisionado, quando encontramos 
dificuldades na liberação dos pontos de  tensões adquiridos na vida cotidiana, em especial, no trabalho serio causador de stress, doenças psicossomáticas,  depressão. Entre outros males, gerados por esse sistema neocapitalista, temos a reprodução de clones: pessoas que pensam, agem e se comportam, todas do mesmo jeito, iguais.

Neocapitalista sim porque, se antes, para esse poder lhe servia a força física do corpo para o trabalho serviçal em lavouras e construções  de cidades, em fabricas e industrias, hoje, com as maquinas computadorizadas, as mídias digitais e sociais, lhes servem a criatividade, a imaginação, a inventividade. Antes, nos faziam trabalhar para viver e produzir cada vez mais, hoje, nos fazem trabalhar para morrer: por uma estética perfeita, assujeitado, pobre, sobrevivente, infeliz!!! 

A festa favorece o encontro, a liberação momentânea de fluxos energéticos, mas, não resolve. É preciso um trabalho voltado ao cuidado de si mesmo, ao autoconhecimento, que respeite cada Ser humano e suas diferenças.

Em suma: "o poder tomou de assalto à vida (...) penetrou todas as esferas da existência " ao romper normas éticas, dissociando a vida da arte. O corpo é alvo principal dos dispositivos, das disciplinas e das estratégias de poder que colocam o sujeito em jogo, a partir de sua gênese. 


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